A
dinâmica das relações humanas atuais, principalmente no tocante à educação, aquela
que a família insere o filho na condição humana de perceber e aceitar o outro
como semelhante, baseada em princípios ajustados com o passado dos anos, mas
que compõe costumes e valores hereditários. Por vezes, aos olhos de quem
consegue ver as pessoas e respeita-las, certamente deve ser invadido por
sentimento nostálgico, de tempos não muito distante, que eram mais respeitadas.
Certamente a
modernidade das relações liquidas, de pais sem tempo para acompanhar o
desenvolvimento dos filhos, presos na culpa trocam o estabelecimento de
limites, insumo da formação psicológica e moral, por presentes ou liberdade de
atitudes dos filhos, aos olhos dos pais inofensivas brincadeiras de criança. No
entanto, em muitos casos prejudiciais a quem esteja compartilhando o ambiente. Conclui-se
que eles não sabem ou fecham os olhos para o futuro do adulto, que será a
criança descuidada e não frustrada, com mais conteúdo e capacidade de
interpretação, guardadas certas limitações.
A
impressão captável na forma de educação dos filhos é que são preparados para
resultados e que o mundo é sempre um campo de batalha e a grande maioria das
pessoas com quem irá conviver, seus inimigos. Deixando uma certa alusão que importante
é o que se tem, e não o que se é. Comportamento estimulante à busca a qualquer
custo de “coisas”, pois muitas não estão representadas conscientemente pelo individuo,
árduo por possui-las, que torna-se presa fácil das inebriantes propostas de
consumo. Use isso ou aquilo e serás o tipo que sonha ser, livre de frustrações
e poderoso o suficiente para não depender de ninguém. Doce ilusão.
Um
exemplo da representação ter em detrimento do ser, é o que ocorre em uma cidade
turística aqui de Goiás. Basta circular pelas ruas do centro da cidade abarrotadas
de veículos, na região de barzinhos e restaurantes cheios de visitantes para testemunhar
a passagem do Camaro amarelo, parado em fila dupla ou circulando lentamente, o
motorista acelera fortemente o veículo continuamente, mesmo parado nos engarrafamentos,
para chamar à atenção de quem observa ou passa, provavelmente dizendo “eu sou o
cara”. Vale perguntar: será que o motorista sente-se senhor de si fora do
carro? Ele é capaz de seduzir alguém sem a representação do carro?
Parece
que a busca descontrolada do ter empobrece o ser, cegando a pessoa para a
realidade presente. Notícia veiculada em canais de comunicação de Goiânia, por
volta do dia 15/7/14, noticiava a prisão de um jovem de aproximadamente 20
anos, que havia matado o pai para se apropriar de uma herança no valor de 80
mil. Valor atribuído pelo jovem à vida do pai. Outro caso estarrecedor foi a
demonstração de irracionalidade do sujeito que amassou o carro de seu vizinho
de garagem, empurrando-o com sua camionete em alta velocidade de macha ré. Como
mostrado na tv, o carro amassado estava estacionado em cima da linha
demarcadora do box. Ao descer do carro o motorista passou junto ao carro
amassado e se quer olhou para o estrago feito no veículo alheio.
O ser educado é
alguém que consegue reconhecer a presença, valor e direitos de seus
semelhantes, independentemente de onde e com quem esteja.
Se
a educação primordial, aquela repassada pelos pais, referendada por pesquisa da
UNESCO, concluindo que 75% da educação humana se dá na convivência familiar. É
vital para a humanidade que seja mudar o foco para a formação de um sujeito
efetivamente humano, que saiba reconhecer seus próprios valores e respeitar a
si mesmo em todos os sentidos, só assim é capaz de respeitar e mesmo amar seu
semelhante. Já que é impraticável, amar sem respeitar. Certamente a convivência
humana terá um grande salto, com reflexos na redução dos conflitos, fruto do domínio,
usado por pessoas que no íntimo, querem ser amadas, mas não são capazes de
admitir, para não se parecerem fracas.
Lauro Milhomem Coutinho