12/04/2009

A empresa familiar, numa perspectiva psicanalítica

Às vezes as pessoas criam sua empresa por vingança; outras, para mostrar a alguém. Quando é este o fator desencadeador, inicialmente, essas pessoas buscam o reconhecimento ou o primado afetivo no âmbito familiar – principalmente na mãe ou no pai.Se não conseguem reverter essa dinâmica para a auto-realizaçao, transferem isso para o âmbito social, através da construção de um empreendimento, não para si, mas apenas pelo reconhecimento. Tendem a se perde, por exemplo, tornando-se assistencialistas, ou a manifestar a sua frustração de alguma outra maneira, boicotando sucessores. Podem ainda ser um entrave para outros empresários, que nem ao menos são seus concorrentes, ou ainda preparando armadilhas, apenas pelo prazer de ver um ou outro cair nelas. Sentem prazer com a desgraça alheia, de preferência até a proporcionando. Precisam ver o outro perde, não estão priorizando a si, sua vitória, sua evolução, mas a algo que os mantém presos a algum fato que lhes aconteceu na infância. (FOCKINK, 1998, p. 41)

Em todos os segmentos empresarias, existem em grande quantidade as sociedades conhecidas como organizações ou empresas familiares. Constituídas, normalmente, por dois ou mais membros da mesma família. Comumente esse tipo de empresas, são abertas para a inclusão de parentes da família principal, aquela deu inicio ao negócio: pais, irmãos, tios, sobrinhos, primos e cunhados.

Para muitos negócios a participação da família representa o diferencial de organização e competitividade, principalmente quando se trata de família emocionalmente saudável, onde um membro da família complementa o outro. Assim a identidade da família se materializa na empresa, formando a identidade e a marca dos produtos ou serviços por ela oferecidos.

O fato comum nas organizações familiares é a dificuldade de preparação de sucessores, ficando o poder centrado na figura do fundador, normalmente o pai. “Um pai narcisista também torna-se um obstáculo internalizado que evita que um filho ou filha tenha sucesso ou seja criativo”. (ibid. 1992, p. 106).

A origem da dificuldade, provavelmente na resistência do planejamento e preparação da linha sucessória da empresa, pode ter origem nas disputadas veladas entre os membros da família, fato natural, já que a busca do poder pode ser comandada por impulsos inconscientes. Não escolher ou retardar a escolha do sucessor é um dos principais indicadores de insucesso das empresas familiares. Isto no caso de famílias com nível de entendimento relacional satisfatório.

A dificuldade da escolha do sucessor, passa pela superação do apego, típica do narcisismo, comum na maioria dos gestores bem sucedidos. O fato de ser o pai e educador dos filhos, não é o suficiente para convencê-los da capacidade destes conseguirem dar seqüência naquilo que julgam ser uma obra prima sem comparação. ”Um mentor ou pai que promove o avanço de um homem mais jovem com freqüência não suporta ser superado por ele; surge então um confronto em que um deles sai vencedor, o que também costuma por um fim ao relacionamento”. (ibid. 1992, p. 105).

Em muitas empresas os filhos são tratados de minhas crianças, caracterizando o sentimento dos pais com a incapacidade dos filhos de assumirem responsabilidades próprias de adultos.

“Uma variante da dependência afetiva, que também dificulta a consolidação da liderança ou do processo sucessório, ocorre quando, uma vez desencadeada a sucessão, tanto fundador quanto sucessor a fazem para um outro. Pode ser, por exemplo, que o filho assume apenas para agradar ao pai, ou este repassa a empresa para corresponder ao desejo da esposa”. (ibid. 1998, p. 41)

A informalidade é fator predominante na empresa familiar, devem partir do principio de que se tratando de família, todos os membros partilham da mesma atitude, visão e objetivos ou simples um membro fica esperando que o outro cuide. Os membros normalmente aprendem por tentativa e erro. Algo comum ao que ocorre nas relações familiares, na convivência residencial.

Muitos casais e sócios em negócios vivem angustiados pela ambivalência da separação do parceiro das relações sexuais e do sócio nas relações econômica e financeira. Com isso, normalmente são marido e mulher na empresa, onde discutem a relação conjugal; sócios no lar, onde discutem junto dos filhos, mesmo quando ainda alheios aos negócios, às questões ligadas ao funcionamento e sucesso e insucesso da empresa.

Alguns negócios familiares se mantêm pela impressão do fundador ou dos pais de que o negócio é a forma de manter a família unida. Portanto, a esperança de solução dos conflitos vividos pelos membros.

A crise no negócio familiar é apenas um sintoma da crise de afetividade de seus membros ligados à família. A empresa neste caso funciona como um véu que encobre as frustrações de ordem pessoais, os problemas na empresa são apenas as conseqüências da ausência de gozo e prazer nas relações dos membros familiares entre si.

Os pesquisadores afirmam que apenas 15% das empresas familiares atingem a terceira geração familiar. Desta forma o negócio familiar se deteriora com a evolução da família.

Cliente Insatisfeito

Eu sou o homem que vai a um restaurante, senta-se à mesa e pacientemente espera, enquanto o garçom faz tudo, menos o meu pedido.
Eu sou o homem que vai a uma loja e espera calado, enquanto os vendedores terminam a sua conversa particular.
Eu sou o homem que entra no posto de gasolina e nunca toca a buzina, mas espera pacientemente que o empregado termine a leitura de seu jornal.
Eu sou o homem que explica sua desesperada e imediata necessidade de uma peça, mas não reclama quando entra em um estabelecimento comercial; que parece estar pedindo um favor, ansiando por um sorriso ou esperando apenas ser notado.
Eu sou o homem que entra numa imobiliária e aguarda tranquilamente que os vendedores terminem de conversar com seus amigos; que espera pacientemente, enquanto eles abaixam a cabeça e fingem não ver.
Você deve estar pensando que sou uma pessoa quieta, paciente, do tipo que nunca cria problemas.
Engana-se. Sabe quem eu sou?
Sou o cliente que nunca mais volta.
Divirto-me vendo milhares de reais sendo gastos todos os anos em anúncios de toda ordem, para levar-me de novo a sua empresa.
Quando fui lá pela primeira vez, tudo o que deviam ter feito era apenas a pequena gentileza tão barata, de um pouco de cortesia e respeito.