25/07/2014

Os princípios enjaulados pela ganancia


            A dinâmica das relações humanas atuais, principalmente no tocante à educação, aquela que a família insere o filho na condição humana de perceber e aceitar o outro como semelhante, baseada em princípios ajustados com o passado dos anos, mas que compõe costumes e valores hereditários. Por vezes, aos olhos de quem consegue ver as pessoas e respeita-las, certamente deve ser invadido por sentimento nostálgico, de tempos não muito distante, que eram mais respeitadas.
Certamente a modernidade das relações liquidas, de pais sem tempo para acompanhar o desenvolvimento dos filhos, presos na culpa trocam o estabelecimento de limites, insumo da formação psicológica e moral, por presentes ou liberdade de atitudes dos filhos, aos olhos dos pais inofensivas brincadeiras de criança. No entanto, em muitos casos prejudiciais a quem esteja compartilhando o ambiente. Conclui-se que eles não sabem ou fecham os olhos para o futuro do adulto, que será a criança descuidada e não frustrada, com mais conteúdo e capacidade de interpretação, guardadas certas limitações.
            A impressão captável na forma de educação dos filhos é que são preparados para resultados e que o mundo é sempre um campo de batalha e a grande maioria das pessoas com quem irá conviver, seus inimigos. Deixando uma certa alusão que importante é o que se tem, e não o que se é. Comportamento estimulante à busca a qualquer custo de “coisas”, pois muitas não estão representadas conscientemente pelo individuo, árduo por possui-las, que torna-se presa fácil das inebriantes propostas de consumo. Use isso ou aquilo e serás o tipo que sonha ser, livre de frustrações e poderoso o suficiente para não depender de ninguém. Doce ilusão.
            Um exemplo da representação ter em detrimento do ser, é o que ocorre em uma cidade turística aqui de Goiás. Basta circular pelas ruas do centro da cidade abarrotadas de veículos, na região de barzinhos e restaurantes cheios de visitantes para testemunhar a passagem do Camaro amarelo, parado em fila dupla ou circulando lentamente, o motorista acelera fortemente o veículo continuamente, mesmo parado nos engarrafamentos, para chamar à atenção de quem observa ou passa, provavelmente dizendo “eu sou o cara”. Vale perguntar: será que o motorista sente-se senhor de si fora do carro? Ele é capaz de seduzir alguém sem a representação do carro?
            Parece que a busca descontrolada do ter empobrece o ser, cegando a pessoa para a realidade presente. Notícia veiculada em canais de comunicação de Goiânia, por volta do dia 15/7/14, noticiava a prisão de um jovem de aproximadamente 20 anos, que havia matado o pai para se apropriar de uma herança no valor de 80 mil. Valor atribuído pelo jovem à vida do pai. Outro caso estarrecedor foi a demonstração de irracionalidade do sujeito que amassou o carro de seu vizinho de garagem, empurrando-o com sua camionete em alta velocidade de macha ré. Como mostrado na tv, o carro amassado estava estacionado em cima da linha demarcadora do box. Ao descer do carro o motorista passou junto ao carro amassado e se quer olhou para o estrago feito no veículo alheio.
O ser educado é alguém que consegue reconhecer a presença, valor e direitos de seus semelhantes, independentemente de onde e com quem esteja.
            Se a educação primordial, aquela repassada pelos pais, referendada por pesquisa da UNESCO, concluindo que 75% da educação humana se dá na convivência familiar. É vital para a humanidade que seja mudar o foco para a formação de um sujeito efetivamente humano, que saiba reconhecer seus próprios valores e respeitar a si mesmo em todos os sentidos, só assim é capaz de respeitar e mesmo amar seu semelhante. Já que é impraticável, amar sem respeitar. Certamente a convivência humana terá um grande salto, com reflexos na redução dos conflitos, fruto do domínio, usado por pessoas que no íntimo, querem ser amadas, mas não são capazes de admitir, para não se parecerem fracas.

            Lauro Milhomem Coutinho

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