Segundo Fromm, “o narcisismo,
pode, assim, ser descrito como um estado da experiência em que só a própria pessoa,
seu corpo, suas necessidades, seus sentimentos, seus pensamentos, seus
atributos, tudo e todos que lhe pertençam são experimentados como plenamente
real, enquanto tudo e todos que não formam parte da sua pessoa ou não constituem
objeto de suas necessidades não são tidos como interessantes, não são plenamente
reais, são percebidos apenas por meio de um reconhecimento intelectual,
enquanto afetivamente sem peso e sem cor.
Uma determinada pessoas, na
medida em que seja narcisista, tem um modelo duplo de percepção. Só ela e o que
lhe pertença têm significação, enquanto que o resto do mundo mostra-se mais ou
menos sem peso ou sem qualquer colorido. Devido a esse modelo duplo, a pessoa
narcisista exibe graves defeitos de julgamento e mostra-se carente frente à objetividade.
Frequentemente, a pessoa
narcisista consegue um senso de segurança em sua convicção subjetiva quanto à
sua perfeição, a sua superioridade sobre os outros, às suas qualidades extraordinárias,
e não como resultado de seu relacionamento com os outros, ou através de
qualquer trabalho real ou realização devida apenas a seus méritos. Precisa agarrar-se
à sua própria imagem narcisista, uma vez que o seu senso de valor assim como
sua identidade estão baseados nela. Se o narcisismo é ameaçado, a pessoa vê-se ameaçada numa área vitalmente
importante. Quando os outros ferem o seu narcisismo, ao desfeitearem a pessoa,
criticando-a, expondo-a, quando disse alguma coisa errada, batendo-a num jogo
qualquer ou em numerosas outras oportunidade, a pessoa narcisista geralmente
reage com ódio intenso ou com raiva, mostre ou não isso ou tenha mesmo dela consciência.
A intensidade dessa reação agressiva pode ser vista, frequentemente, no fato de
que uma pessoa assim nunca perdoará alguém que lhe tenha ferido o narcisismo e
geralmente sente um desejo de vingança que seria menos intenso se o seu corpo
ou suas qualidades não tivessem sido atacadas.
A maioria das pessoas não tem consciência
de seu próprio narcisismo, mas apenas das manifestações que não o revelam. Dessa
forma, por exemplo, sentem admiração desordenada pelos pais ou pelos filhos, e não
sentem qualquer dificuldade em expressar esses sentimentos porquanto um
comportamento desse tipo é geralmente julgado positivamente como piedade
filial, afeição paterna, ou lealdade; mas se tivessem de expressar os
sentimentos a respeito de si próprias, de modo a dizerem que “Sou a pessoa mais
maravilhosa do mundo”, “Sou melhor do que ninguém”, etc., ficariam suspeitas não
apenas de serem extraordinariamente vãs,, como também de não serem
perfeitamente sadias. Por outro lado, se alguém consegue realizar alguma coisa
que encontra reconhecimento no campo da ciência, da arte, dos esportes, do
mundo dos negócios, da política, sua atitude narcisista parece não apenas
realista e racional, mas ainda constantemente alimentada pela admiração de
terceiros. Nesses casos, pode dar plena liberdade ao seu narcisismo, porquanto
o mesmo está socialmente sancionado e confirmado” (1987, p. 272-273).
O narcisista é parte integrante
da vida familiar, social, política, religiosa e profissional, ocupa posições de
destaque em todos os tipos de organizações. Focado apenas em si e nos seus,
impede a fluidez das relações e consequentemente contribui para o surgimento de
conflitos, que infectam os ambientes de tristeza, gerando disputas e
sofrimento.
O narcisismo é tipicamente uma
atitude infantil. A criança fechada em seu mundo não consegue dividir algo ou alguém,
sem se perder.
Uma meta importante do ser humano
é refletir constante sobre sua própria integridade e perceber que não perde
nada e nem perde-se quando divide algo ou a companhia de alguém com outras
pessoas. Ser um ativo porteiro do que pensa, sente e deseja é uma atitude
positiva rumo a paz na convivência humana.
Mudar o mundo começa com a
prática natural e diária de atos de amor e bondade.
Referência:
FROMM, Erich. Anatomia da destrutividade humana. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara, 1987.
Lauro Milhomem Coutinho
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