Análise da personalidade de Hitler numa perspectiva psicanalítica
Hitler nascido em uma hospedaria de Braunau, na Austrália em 1889, filho
de Alois, um aduaneiro de longos bigodes grisalhos e olhos indagadores, que
caracterizavam seu aspecto severo, homem com mais de 30 anos de serviço nos
ombros, já passava dos 50 anos de idade e de Klara Pölzl, mulher esbelta,
cabelos loiros e olhos claros, de origem camponesa de 28 anos de idade por
ocasião do nascimento de Hitler. No entanto, já havia perdido dois filhos,
Gustav e Ida, falecidos em tenra idade, antes do nascimento de Hitler.
Relatos classificam Lois como um tirano que dirigia sua família, tão autoritário,
como agia no escritório alfandegário, conhecido como “um decidido campeão da
lei e da ordem”.
Os pais de Hitler, ambos de uma cidade chamada Waldviertel, região pobre,
predominantemente agrícola; povoada de habitantes de costumes atrasados, frequentemente
portadores de taras, causadas pelo alcoolismo e pelos repetidos casamentos
consanguíneos. Lois e Klara são primos de primeiro grau e, para se casarem, no início
de 1885, tiveram que pedir a licença do bispo.
O casamento com Klara é o terceiro para Lois, que sempre teve uma vida
inquieta e aventureira. Na infância, Lois, conheceu apenas sua mãe, empregada doméstica,
que o concebeu com mais de 40 anos de idade. Casou-se mais tarde e foi
abandonada pelo esposo que preferiu continuar na vida de moleiro ambulante.
Assim, Lois cresceu com o tio, perdendo a mãe aos 10 anos de idade.
Lois casa-se pela segunda vez, 30 dias depois da morte da primeira esposa
e o terceiro casamento, com Klara, seis meses após a morte da segunda esposa.
Segundo Fromm (1987), Klara a mãe de
Hitler, parece ter sido uma pessoa ajustada e simpática. Trabalhara com
empregada domestica na casa de Alois, seu tio e futuro marido. Ela tornou-se
amante dele e engravidou do tio, casando-se com ele depois da morte de sua
esposa.
Hitler aparentemente teve uma infância normal e tranquila, exceto pela
agitação das várias mudanças que a família teve de fazer, seja por exigência do
serviço ou inquietude.
Sob a vigilância constante do pai, o menino foi um bom estudante nos
primeiros anos de curso, mas quando chegou aos 12 anos, a pressão paterna foi
inútil para mantê-lo junto aos livros. Depois da morte do pai, ele permaneceu
na escola por apenas mais dois anos.
Hitler frequentou por dois anos o convento beneditino, tendo se exibido
entre os pequenos coristas.
Para satisfazer o desejo do pai, o filho entra na Realschule, escola secundária, o primeiro passo da carreira de oberoffizial, oficial da alfândega
imperial austríaca: um boné de veludo com filete de ouro. Seu primeiro ano na Realschule é quase um desastre; no ano
seguinte o rapaz repete o mesmo na Staatsalschule
de Steyr. O pai o repreende duramente
por não se aplicar nos estudos como deveria, Hitler replica, dizendo desejar
ser artista, pintor e, nunca aduaneiro.
Hitler cresceu como um garoto independente mais muito solitário. Em suas
brincadeiras infantis preferia brinquedos de miniaturas de equipamentos militar
e sempre se colocava no papel de líder. Lia compulsivamente livros sobre
aventuras e histórias militar. Ele escreveu que: “eu parecia viver as
gigantescas batalhas no mais intimo do meu ser” (WEPMAN, 1987, p. 17). Um
professor relatou que Hitler era um aluno teimoso, arrogante, preguiçoso e
reagia com indisfarçável hostilidade ao conselho ou à punição.
Fromm (1987) buscando afirmar o caráter necrofilo de Hitler, diz que o “Sádico
exigiria a rendição; só o necrofilo exige a aniquilação”. Afirma que Hitler
apresentava três outros traças de caráter intimamente relacionados uns com os
outros, eram: o narcisismo, a sua atitude ensimesmada e a sua falta de
sentimento de amor, de calor humano ou de compaixão.
Em relação às causas da origem necrofila e demais patologia apresentadas
por Hitler, Fromm (1987) destaca que o quadro de mãe responsável e amorosa exercido
por Klara, levanta algumas questões sérias, tendo-se em vista a hipótese de a infância
de Hitler ter sido quase autista e o seu “incesto maligno”, possa ter influenciado
sua psique. Diante desta via, Fromm descreve algumas possibilidades: (1) que
Hitler era constitucionalmente tão frio e reservado que a sua orientação quase
autística existia, a despeito de uma mãe cálida e amorosa. (2) é possível que o
seu superapego ao filho, tivesse sido sentido por ele, já tímido, como forte
intrusão a que reagiu com uma reserva ainda mais drástica.
Os relatos mostram que para Klara, o filho era a menina de seus olhos,
ela o mimava, nunca repreendia, admirava-o. Ele não podia fazer nada de errado.
Toda a sua atenção e a sua afeição concentravam-se nele. Sua atitude,
provavelmente, configurou o narcisismo de Hitler, assim como sua passividade. Ele
era maravilhoso, sem precisar despender qualquer esforço, uma vez que a mãe o
admirava de qualquer jeito. Não tinha de ser esforçar-se porque ele cuidava de
satisfazer todos os seus desejos. Ele por sua vez, dominava-a e se enfurecia
quando se sentia frustrado, Relata Fromm (1987).
Ao que parece Hitler, não via sua mãe como uma pessoa a quem ele se
mostrasse amoroso e ternamente ligado. Ela parecia mais um símbolo das deusas
protetoras e admiradoras, mas também das deusas da morte e do caos. Ao mesmo
tempo, era um objeto para o seu controle sádico, ocasionando uma grande fúria nele
quando ela não se mostrava plenamente prestativa.
Com a morte do pai, Hitler mudou-se para Linz, onde viveu os anos mais intensos e difíceis de sua puberdade,
a perda do pai não pareceu ter efeito sobre ele. Se fosse verdade, como o próprio
Hitler mais tarde escreveu, que o seu fracasso na escola originou-se do
conflito ocorrido com seu pai, uma vez morto o brutal tirano e rival, a hora da
libertação teria soado.
À época contava com apenas um amigo, com quem passa todas as horas livre
em devaneios sobre artes, história e amor. Apaixona-se, mas não consegue trocar
uma palavra se quer, com a jovem, objeto da paixão. Aos 16 anos é acometido
pela tuberculose, que requer meses de cura e mudança de clima. É o fim dos
estudos. Entre 16 e 19 anos, ele vive na completa liberdade: tardes de espera
por um único olhar da amada; leituras disparadas; noites no Teatro da Ópera.
Longas estadas em Viena, que nesta época desempenhava grande papel na história
da musica e do teatro.
A mãe esgotou suas economias para satisfazer a paixão do filho, mesmo
assim, Hitler é reprovado no exame de admissão para a Academia de Belas-Artes
de Viena, seus testes foram considerados “insatisfatórios”, criticados pela
deficiência de figuras humanas em seus desenhos e, as poucas que constavam não
eram retratadas nas proporções corretas. Repetindo a reprovação no ano
seguinte, foi aconselhado a tentar o curso de arquitetura, porém sua inscrição não
foi aceita pela falta do diploma da Realschule.
Neste ínterim sua mãe morre. O jovem agora precisa ganhar seu próprio pão.
Hitler não consegue superar o golpe sofrido no gabinete do diretor naquele dia
de outono. Sua desclassificação deu origem a um profundo ressentimento.
Na época, Viena era uma metrópole com aproximadamente dois milhões de
habitantes. Capital do império e centro industrial entre os maiores da Europa,
a cidade estava vivendo os últimos anos da sua “doce vida”: valsas e óperas,
café, concertos e passeios às margens do “belo Danúbio azul”. Mas, atrás dessa
brilhante fachada escondia-se uma triste realidade: um milhão de pequenos
empregados e operários vivendo de simples subsistência; e mais a massa dos
deserdados, vagabundos e delinqüentes de todas as raças. É nesse ambiente que
Hitler passa sua vida entre 20 e 24 anos de idade. Sua única renda fixa até os
21 anos de idade era a pensão de 25 coroas, que recebia como órfão. Equivalente
à metade do pagamento de um servente de pedreiro na época. Para completar suas despesas
de sobrevivência, trabalhava removendo neve, carregando malas na estação, pintando
pequenos quadros e de servente de pedreiro. Passou a dormir em dormitório
público e em um convento de frades. Não bebia nem fumava, mas qualquer sobra de
dinheiro usava para comer doces recheados com creme.
Sujeito de poucos amigos, entre eles, um judeu que lhe presenteou com um
sobretudo. Conseguiu um sócio, que vendia os quadros que pintava, até o dia que
o sócio sumiu com um quadro e Hitler o denunciou.
Entre um trabalho e outro, não lhe falta tempo livre, que passa lendo,
principalmente tudo que pudesse satisfazer sua sede de informação imediata, de
conhecimento, basicamente sobre conflitos sociais e política.
Construiu com a convivência e as leituras, aquela que seria sua base de
todas as suas experiências insanas. Sua visão do mundo focalizada em ideias e
impressões recheadas de intolerância, relacionadas com: 1) a natureza
irremediavelmente cruel do homem; 2) a conspiração maléfica e universal dos
judeus; 3) a superioridade da raça ariana e seu direito de dominar o mundo; 4)
a profunda antipatia pelas instituições democráticas e parlamentares; 5) o ódio
impiedoso pela social-democracia e pelo marxismo. Idéias comuns à época e,
Hitler se agarra a elas com muita determinação e as defende com entusiasmo
incomparável, que surpreende e atemoriza os seus próprios companheiros.
Hitler foi preso pelas autoridades austríacas como desertor do serviço
militar. Conseguiu sair da enrascada. Encaminhado para Salzburgo, onde o médico
do Exército considerou-o inapto para o serviço militar, justificando que ele
era incapaz de carregar armas. Depois desse episódio e sem uma palavra se quer
para a família, Hitler mudou-se para Munique, onde deu continuidade a sua
leitura de jornais, apregoando a quem o escutasse, suas crenças políticas e o
desejo de entrar em uma escola de arte. No entanto, não fazia nenhum esforço
para atingir tal objetivo.
Enquanto a vida de Hitler não demonstrava a menor possibilidade de
melhora, o mundo a sua volta parecia em movimento de desintegração. A guerra
deu a Hitler à possibilidade de fugir de sua vida monótona de pobreza e
humilhações, dando-lhe entusiasmo para se envolver ativamente em alguma coisa.
Como em tempo de guerra, os registros médicos, não eram rigorosamente
conferidos e os exames físicos quase fortuitos, ele foi aceito sem restrições e,
em uma semana era o soldado Hitler.
Dez anos mais tarde, Hitler escreve em seu livro, que a noticia da guerra
tomou o de grande emoção, escrevendo. “Tomado de um entusiasmo arrebatador, caí
de joelhos e agradeci aos Céus, com o coração transbordando, por ter-me
concedido à fortuna de poder viver nesse tempo”. (WEPMAN, 1987, p. 17).
Comentou certa vez, que ainda garotinho, havia sonhado com a guerra e, que seu
sonho de infância tinha tornado se realidade. Um membro do regimento relatou
que ao receber o fuzil, Hitler olhou a arma, com o mesmo semblante de prazer,
que uma mulher olha para uma jóia, que acaba de ganhar.
Frases que demonstram o sentimento, a vida e a história do ditador. “A
luta é a mãe de todas as coisas... Não é com princípios humanitários que o
homem vive... Mas unicamente por meio da luta mais brutal”. Adolf Hitler.
A presente síntese sobre aspectos bibliográficos da vida de Hitler, não
objetiva recriminar ou defendê-lo das atrocidades que cometeu, nem tão pouco
estabelecer uma premissa imutável, que cada indivíduo adulto, agirá único e
exclusivamente sob as influencias de traumas, decorrentes de maus tratos ou
coisa parecida, sofridos na infância ou mesmo estabelecer como certeza
inconteste ou via sem desvio, que as vivencias da infância do indivíduo, serão repassadas
a outras pessoas, como forma de alivio de seu sofrimento.
No entanto, tomando como base os conceitos psicanalíticos, deixados por Freud,
todo conteúdo inconsciente, independente de quando foi recalcado ou reprimido,
permanecerá inconsciente, até encontrar a oportunidade para tornar-se consciente,
Nesse entremeio, permanece produzindo ações e reações, às vezes, antagônicas ao
aspecto consciente e comportamento adotado ou desejado pelo indivíduo.
Tudo que é inconsciente poderá um dia tornar-se consciente. No entanto, o
resultado necessariamente é a repetição do ocorrido, porém o indivíduo se quer
sabe precisar o que realmente lhe aconteceu e, se aconteceu no real ou apenas
imaginariamente.
A necessidade de tornar consciente conteúdo inconsciente, seja recalcados
ou reprimidos é próprio da condição humana, como consta na Bíblia: “Porque não
há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de
saber-se e vir à luz”. Lucas 8:17.
Lauro Milhomem Coutinho
Psicanalista/Consultor
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