Para Foucault, o poder é um feixe aberto, mais ou menos coordenado de relações, para ele, “não existe algo unitário e global chamado poder, mas unicamente formas dispares, heterogêneas, em constante transformação. O poder não é um objeto natural, uma coisa; é uma prática social e, como tal, constituída historicamente”. (FOUCAULT, 1979, p. X).
Sendo o poder uma prática inerente ao ser humano, que surgiu fundamentada na necessidade de regular as relações sociais, com o estabelecimento de regras, para a convivência entre os membros de um grupo social e da espécie humana. Considerando as particularidades de tempo, local, pessoa e, também o uso dos meios necessários à subsistência, com a produção de riquezas, proteção, segurança e a defesa de direitos e deveres.
Teoricamente o poder apresenta-se como algo sublime e sinalizador de uma condição favorável às relações humanas. No entanto, quando entra no campo da singularidade, aonde a verdade é pessoal e intransferível, o poder depara-se com uma grande barreira, que caminha lado a lado com a complexidade da mediação das relações humanas.
"O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir". (FOUCAULT, 1979, p. X).
Como estar no poder pressupõe sobreposição de um indivíduo aos seus pares, tê-lo e exercê-lo, para alguns constitui uma forma de se encontrar.
Ser o poder, em vez de exercê-lo, pode representar para alguns indivíduos a libertação de sentimentos de inferioridade adquiridos durante sua formação. Julgar e condenar o outro, pode representar para o julgador uma autopunição, pelos atos praticados inconscientemente, que permeia a mente do indivíduo, tornando o culpado pelos desejos, sobretudo, quando se trata de desejos impróprios, destinados a objetos proibidos pela lei do incesto.
A verdade é à base da ação e aplicação do poder. “O poder é produto da individualidade. O indivíduo é uma produção do poder e do saber” (FOUCAULT, 1979, p. XIX).
Há um combate “pela verdade” ou, ao menos, “em torno da verdade” - entendendo-se, mais uma vez, que por verdade não quero dizer “o conjunto das coisas verdadeiras a descobrir ou a fazer aceitar”, mas o “conjunto das regras segundo as quais se distingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos específicos de poder”; entendendo-se também que não se trata de um combate “em favor” da verdade, mas em torno do estatuto da verdade e do papel econômico-político que ela desempenha. (FOUCAULT, 1979, p. X).
Para Foucault, o poder disciplinar não destrói o indivíduo, ele fabrica o indivíduo. Assim, o indivíduo não é o outro do poder, realidade exterior, que é por ele julgado e anulado; é um de seus mais importantes efeitos.
O autor considera que a repressão sobre a sexualidade no século XVIII, por ocasião da descoberta do auto-erotismo e o controle da masturbação, instaurou-se o medo sobre o corpo das crianças, tendo como origem a vigilância sobre a sexualidade e perseguição dos corpos. O corpo se tornou a partir daí um elemento do jogo da luta entre pais e filhos, adultos e crianças. Desta forma, o sexo foi aquilo que nas sociedades cristãs, era preciso examinar, vigiar, confessar e transformar em discurso.
Para Echenique [et al.] a estrutura desejante do homem reflete-se em todas as áreas da vida. A busca de satisfação dos desejos é à base de sua atuação no mundo e sua realização implica no misto do mundo interno e externo, já que o desejo expressão do mundo interno se projeta e se externaliza sobre o objeto desejado e deste se apropria de forma concreta ou simbolicamente, incorpora-o.
A maior ou menor possibilidade de exercício do desejo é similar ao poder de que dispõe o indivíduo em seu meio ambiente. Assim, o desejo e o poder, em sinergia entrelaçam a relação do ser humano com todos os seus pares. Sendo determinada pelas relações interpessoais, a vida psíquica será, portanto, uma resultante das estruturas de poder que estas relações incluem.
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